Análise

A grande oportunidade da Major League Soccer

António Ribeiro / April 27, 2022

Esta madrugada joga-se a primeira mão da final da Liga dos Campeões da CONCACAF entre o Seattle Sounders e o Pumas, embate que terá uma particularidade inédita, potencialmente definidora de um novo capítulo da história do futebol norte-americano. Pela primeira vez na história desta Liga dos Campeões remodelada em 2008, um clube da Major League Soccer chega à grande final da prova continental com estatuto de favorito. A teoria parece estar do lado do Seattle Sounders, mas conseguirão os representantes da MLS dar o derradeiro passo rumo ao próximo Mundial de Clubes? 

Desde a reformulação competitiva realizada em 2008 que a Liga dos Campeões tem sido um verdadeiro passeio para os emblemas mexicanos, que conquistaram o troféu em todas as treze edições. Ao longo deste período, a Major League Soccer conseguiu colocar os seus conjuntos na final apenas em quatro ocasiões (2011, 2015, 2018 e 2020), e apesar da esperança que sempre existiu em todas essas finais, a superioridade do adversário mexicano foi sempre uma realidade reconhecida. Os finalistas vencidos Real Salt Lake, CF Montreal, Toronto FC e LAFC deram tudo para ser a surpresa. Desta feita, os papéis inverteram-se, e o Seattle Sounders assume o favoritismo teórico, papel inédito até então entre competidores da MLS.  

Confirmar esse favoritismo seria o coroar de um percurso notável da agremiação fundada em 2007. Em provas oficiais desde 2009, o Seattle Sounders nunca (!) falhou uma presença nos Playoffs da MLS, sagrou-se duas vezes campeão (2016 e 2019), e conquistou quatro Taças dos EUA (2009, 2010, 2011 e 2014). Mesmo sem grandes feitos continentais, visto que o seu melhor registo na Liga dos Campeões tinha sido uma meia-final em 2012, esta já é a sua sétima presença na principal competição de clubes da América do Norte. 

O Seattle Sounders obteve o terceiro melhor registo pontual na Fase Regular da última edição da MLS, garantindo assim a qualificação para a Liga dos Campeões. Começou por eliminar naturalmente os vice-campeões hondurenhos do Motagua com um resultado agregado de 5-0, avançando para uns quartos-de-final aparentemente exigentes frente ao Club León. Só que a equipa de Seattle decidiu aplicar 3-0 logo na primeira mão em casa, e aguentar um honroso empate em solo mexicano. Seguiu-se o compatriota e campeão nacional em título New York City FC, que também ficou pelo caminho após um resultado combinado de 4-2. 

O favoritismo invulgar do Sounders não resulta apenas da sua confiança e capacidade, mas também de um conjunto de felizes circunstâncias externas ao seu percurso. Por exemplo, os principais representantes mexicanos em prova foram sendo surpreendentemente eliminados, inclusive o Cruz Azul, apontado como o vencedor anunciado da competição. Restou o finalista Pumas, que hoje apresenta um conjunto de soluções no seu plantel assumidamente inferior ao do próprio Sounders. O goleador argentino Juan Dinenno, e os defesas Alan Mozo e Nicolás Freire são os principais nomes de um conjunto completamente ao alcance dos norte-americanos. Por outro lado, o Pumas está a braços com um calendário terrível. No espaço de 11 dias, os mexicanos disputam as duas partidas da final e as duas últimas jornadas da Clausura, onde precisam desesperadamente de pontuar caso queiram classificar-se para a fase final da prova. Por último, o craque Dinenno parece indisponível fisicamente para o jogo da primeira mão, e o central Arturo Ortiz encontra-se castigado. 

A grande arma do Pumas para este confronto será o seu público apaixonado, responsável por esgotar 60 mil bilhetes em 15 minutos, pelo que a forma como se comportará o Sounders num terreno hostil será certamente determinante no desfecho desta eliminatória que tem tudo para ser histórica. Veremos como o Seattle Sounders aproveita esta oportunidade única de conquistar a Liga dos Campeões e de colocar finalmente um emblema norte-americano no Mundial de Clubes, contribuindo assim para o reconhecimento internacional da Major League Soccer. 

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