Análise

A surpresa romena e o renascer de um clássico

António Ribeiro / March 27, 2019

Não é fácil estar a par de tudo o que de importante acontece no universo futebolístico, e por isso o Soccer em Português decidiu fazer uma cábula elucidativa, para que não perca as principais narrativas da Major League Soccer. Neste primeiro apanhado de 2019, o destaque vai para o romeno Alexandru Mitrita, e para a equipa do DC United.

MITRITA: A SURPRESA QUE VEIO DA ROMÉNIA

A saída de David Villa para o Japão no último defeso, libertou espaço no balneário e no orçamento do New York City FC para a contratação de outro jogador de calibre mundial. Por isso, quando o nome de um romeno desconhecido foi oficializado em Fevereiro, com um investimento considerável (oito milhões de euros), muitos nova-iorquinos franziram naturalmente os sobrolhos. Primeiramente, os futebolistas oriundos da Roménia não têm grande tradição na MLS. Em 24 anos de competição, Mitrita é o quinto a militar na competição, sendo que o mais bem-sucedido terá sido Razvan Cocis, peça importante do Chicago Fire em 2015 e 2016. Nada de memorável, portanto. Por outro lado, o percurso de Mitrita passou em grande parte pelo campeonato romeno, o que acentua a sua faceta de jogador incógnito.

Afinal, de onde veio o novo reforço do New York City FC? Alexandru Mitrita, extremo virtuoso, capaz de actuar em ambos os flancos, começou a destacar-se em 2013, ao serviço do modesto Vitorul Constanta, da primeira liga romena. Depois de um empréstimo malsucedido ao Steaua de Bucareste, Mitrita foi transferido aos 20 anos para os italianos do Pescara, da Serie B. Contribuiu para a subida de divisão, e actuou pelo Pescara regularmente na Serie A da época seguinte. Retornou à Roménia em 2017/18, para representar o Universitatea Craiova, onde venceu a Taça da Roménia, integrou o XI do Ano do campeonato, e começou a merecer a atenção do seleccionador Cosmin Contra. Acabou de somar a sua sétima internacionalização diante da Suécia.

Três partidas apenas com a camisola do New York City FC bastaram para perceber que Mitrita, actualmente com 24 anos, será a principal figura ofensiva dos nova-iorquinos em 2019, contrariando assim muitos adeptos apreensivos. Tudo começou em Orlando, onde o romeno demonstrou uma capacidade notável de furar defesas adversárias somente com os seus passes venenosos. Assistiu Alexander Ring no segundo golo, e podia ter acumulado uma assistência adicional, não fosse o desacerto de Maxi Morález na hora do remate. A ansiedade esteve presente na estreia, espelhada na vontade pontual em resolver tudo, mas o talento também. Seguiram-se dois jogos em casa, nos quais Mitrita provou ser uma ameaça constante, desta feita comprovando todo o seu engenho com a bola no pé, driblando e confundindo os oponentes. Ao terceiro encontro, Mitrita facturou com pompa e circunstância frente ao Los Angeles FC. Se existem dúvidas quanto aos nova-iorquinos, que registam três empates em igual número de jogos, só existem certezas quanto à capacidade individual de Alexandru Mitrita. Um jogador a não perder de vista.

DC UNITED: O RENASCER DE UM CLÁSSICO

O segundo emblema da Major League Soccer com mais títulos na história da competição (quatro) parece finalmente estar pronto para voltar a ombrear por troféus, depois de praticamente uma década de dissabores, algo que o Soccer em Português já havia antecipado em vésperas do arranque do campeonato. As performances em campo do DC United nos três compromissos inaugurais vieram comprovar essa mesma ideia. Os rubro-negros estão de volta.

A temporada começou desde logo contra os campeões em título, mas o DC United resolveu esse pontapé de saída exigente com um triunfo contundente por 2-0. Seguiu-se um nulo no terreno do New York City FC, e um regresso a casa com uma goleada de 5-0 imposta ao Real Salt Lake. Como explicar este belíssimo início de época do DC United?

Antes de mergulhar em 2019, é imperativo mencionar dois aspectos provenientes da temporada transacta, que serviram de base para este arranque promissor. Um deles foi a contratação de Wayne Rooney no último Verão, principal responsável por empurrar a equipa até aos Playoffs. O avançado inglês chegou com os índices de motivação elevadíssimos, e desde então que essa vontade de fazer a diferença a cada segundo não refreou. 15 golos em 24 partidas são estatísticas ilustrativas disso mesmo. Por outro lado, o DC United inaugurou o Audi Field, estádio desenhado especificamente para a prática de futebol, ao contrário do seu antecessor RFK Stadium. Esta transição verificada também no Verão de 2018, criou uma nova mística em torno dos anfitriões, com uma arena mais aconchegante, onde sentimos finalmente o pulsar dos adeptos da capital norte-americana.

Voltando ao bom momento do DC United em 2019, e contextualizado que está face a 2018, há que reconhecer valor ao técnico Ben Olsen, que conseguiu reunir um conjunto de futebolistas talentosos, mas sobretudo motivados. Nos 270 minutos que serviram de mote para esta breve análise, não foi só Wayne Rooney que se excedeu (positivamente, é claro). O guarda-redes Bill Hamid encontra-se determinado a realizar a sua melhor época de sempre, e a voltar a ser cogitado para um lugar na selecção norte-americana. O argentino Luciano Acosta acabou por não rumar ao PSG na última janela de transferências, mas o fulgor das suas exibições manteve-se, assumindo-se como o jogador mais valioso do plantel, a par de Rooney. Também no meio-campo ofensivo, Paul Arriola tem vindo a crescer de jogo para jogo, emergindo como uma das principais caras da nova geração norte-americana. O internacional venezuelano Júnior Moreno surpreende pela positiva enquanto médio de contenção, e mesmo as caras novas que entraram directamente no XI inicial, Lucas Rodríguez e Leonardo Jara, acrescentam valor de forma significativa.

É verdade que o DC United ainda não é líder, e ocupa a terceira posição da classificação global, mas daquilo que podemos observar em campo, os lugares cimeiros serão território dos rubro-negros em 2019. Para quem gosta de futebol bem jogado, e de descobrir novos intérpretes em lugares menos óbvios, a campanha do DC United na MLS, que se avizinha triunfante, é uma das narrativas a acompanhar.

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