Análise

Como Nani deverá encaixar em Orlando

António Ribeiro / February 24, 2019

A poucos dias do começo oficial da temporada, o Orlando City SC anunciou a contratação de um dos reforços mais sonantes do defeso da Major League Soccer, a custo zero. Nani vai ser assim o décimo oitavo futebolista português a actuar na MLS, e o Soccer em Português procurou perceber de que forma poderá o ex-sportinguista encaixar nesta nova aventura norte-americana.

Aos 32 anos, Nani decidiu abraçar uma nova fase da sua notável carreira. Entre os pontos mais altos da sua vida futebolística, destaque para o Campeonato Europeu conquistado pela selecção nacional, e para a Liga dos Campeões e Campeonato do Mundo de Clubes, ambos ao serviço do Manchester United. As qualidades individuais do extremo português tornam-se redundantes para quem se habituou a vê-lo jogar nos grandes palcos europeus, mas para os mais esquecidos, aqui vai. Nani pode ser definido sucintamente como um extremo temível e competente em qualquer ala, capaz de actuar igualmente numa posição de segundo avançado. Bom driblador, preciso nos cruzamentos, e perigoso no remate de longa distância.

Em Orlando, o entusiasmo dificilmente poderia ser maior. A chegada de Nani representa um salto qualitativo significativo para um clube que nunca chegou aos Playoffs em quatro tentativas. De repente, alcançar a fase das decisões parece uma possibilidade mais real do que nunca.

A comandar as hostes estará James O’Connor. O técnico irlandês habitou sempre dentro da estrutura do clube, onde chegou a sagrar-se campeão da segunda divisão com as reservas em 2017. Assumiu o controlo da primeira equipa a meio da época transacta, face aos maus resultados obtidos pelo seu antecessor, pelo que em 2019 terá a oportunidade de trabalhar o projecto à sua imagem desde o primeiro dia. Daquilo que a pré-época nos tem mostrado até agora, O’Connor pretende ter dois sistemas tácticos bem ensaiados, dando prioridade a um desenho com uma defesa a três, variando pontualmente entre o 3x4x3 e o 3x5x2. Neste cenário, Nani pode enquadrar-se facilmente, tanto nos corredores laterais, como no papel de segundo atacante.

No balneário, Nani contará com a companhia de outro português. João Moutinho, lateral-esquerdo notabilizado por ter sido o primeiro futebolista de origem nacional a ser seleccionado no Super Draft, procura afirmar-se em Orlando, depois de uma temporada inaugural no Los Angeles FC que não correspondeu às elevadas expectativas colocadas nos seus ombros.

Para além de Moutinho, o recém-chegado internacional português terá obrigatoriamente de se enturmar com os seus novos parceiros ofensivos, aspecto determinante para o sucesso das movimentações que visam a baliza. Pronto para ser “alimentado” por Nani, encontramos Dom Dwyer, ponta-de-lança de 28 anos, dono um registo prolífico na MLS (74 golos em 166 jogos). Solicitou recentemente a nacionalidade norte-americana para poder estar elegível para jogar pela selecção, e já amealhou dois tentos em quatro internacionalizações. Eis um excerto um relatório individual desenvolvido em Outubro de 2016 por mim sobre o jogador para o Fair Play, em parceria com a Talent Spy:

«Podemos definir o avançado britânico como uma autêntica ‘carraça’, daquelas que não larga nem por nada. A margem de erro das defensivas contrárias reduz drasticamente quando o portentoso Dwyer está em campo, devido às suas acções de pressão constantes, que só terminam com o ruído do apito final. Rápido e com efectiva capacidade de sacrifício, revela-se uma unidade extremamente útil nos momentos de recuperação colectivos».

O maestro de serviço na posição de nº 10 será, na grande maioria das situações, Sacha Kljestan. Este veterano e internacional norte-americano, tricampeão belga ao serviço do Anderlecht, é o jogador em actividade com mais assistências da história da MLS, e promete ocupar o top-5 desta lista muito brevemente. A sua graciosidade em campo levou a que alguns o apelidassem de ‘Zidane da Major League Soccer’. Salvo as devidas distâncias e dimensões, percebemos a ideia.

Por último, vale a pena mencionar Chris Mueller, um jovem extremo, também norte-americano, que poderá aprender imenso com a vinda de Nani. Mueller estreou-se profissionalmente o ano passado, onde surpreendentemente se assumiu como uma peça fulcral da equipa, sendo inclusive nomeado para Rookie do Ano. Rodeado de futebolistas experientes como Nani ou mesmo Kljestan, o aprendiz Mueller arrisca-se a crescer substancialmente enquanto futebolista, e a deixar de ser apenas um virtuoso veloz.

Nani tem todas as condições para emergir como uma das principais figuras da Major League Soccer em 2019, e ajudar o Orlando City SC a conquistar o acesso aos Playoffs pela primeira vez na história do clube. Os saltos mortais tão característicos de Nani na hora de celebrar o golo, prometem virar prática habitual nos relvados norte-americanos.

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