Análise

EUA: 616 dias depois, descubra as diferenças

António Ribeiro / June 19, 2019

Vinte meses após a catastrófica derrota em Trinidad e Tobago que afastou a selecção norte-americana do Campeonato do Mundo, algo inédito desde 1986, os Estados Unidos voltaram a disputar uma partida oficial. Na estreia da equipa na Gold Cup, uma goleada por 4-0 sobre o frágil conjunto de Guiana não serviu para retirar conclusões sólidas acerca do novo ciclo que começou sob a orientação de Gregg Berhalter. No entanto, o Soccer em Português aponta as principais diferenças entre os dois alinhamentos, separados por 616 dias, em busca de pistas que nos ajudem a compreender como é que os norte-americanos pretendem alcançar o próximo Mundial no Qatar.

GREGG BERHALTER, O NOVO SELECCIONADOR

Uma das consequências imediatas do desastre futebolístico ocorrido em Outubro de 2017 foi a pronta demissão do seleccionador Bruce Arena, chamado a meio da qualificação para tentar salvar os Estados Unidos. Tendo em consideração a distância do seguinte encontro oficial, a federação norte-americana demorou o seu tempo, e enquanto não anunciava o sucessor, o interino Dave Sarachan cumpriu a tarefa a prazo de lançar caras novas nos amigáveis calendarizados, e aferir quem teria capacidade de estar presente no próximo ciclo. Finalmente, em Dezembro do ano passado, Gregg Berhalter foi oficializado. Enquanto futebolista, o ex-internacional participou no Campeonato do Mundo de 2002, e protagonizou uma carreira satisfatória pela Europa, antes de terminar nos Los Angeles Galaxy da Major League Soccer.

Iniciou o percurso de técnico em 2011, como adjunto dos Galaxy, mas logo rumou aos suecos do Hammarby IF, onde se tornou o primeiro norte-americano a treinar um clube europeu. Talvez por vícios inerentes ao seu passado de defesa, acabaria dispensado por apresentar um futebol pouco ofensivo, segundo as palavras dos responsáveis nórdicos. Recebeu uma proposta para regressar aos Estados Unidos, e assinou pelo Columbus Crew SC, emblema que orientava desde 2013. Conhecido pela sua fidelidade obsessiva pelo 4x2x3x1, sistema comum a todas as temporadas, Berhalter privilegiava declaradamente a eficácia da estratégia colectiva, preterindo muitas vezes unidades que não encaixavam no plano. O ponto mais alto desta passagem por Columbus culminou no vice-campeonato obtido em 2015.

TRIO DE RESISTENTES

Entre os dois encontros analisados, restam apenas três sobreviventes no onze inicial dos Estados Unidos, o que constitui, aparentemente, uma verdadeira transformação. O capitão Michael Bradley, futebolista norte-americano em actividade com mais internacionalizações (146), manteve o seu posto no meio-campo, juntamente com o jovem prodígio do Borussia Dortmund, Christian Pulisic. Na ala contrária à de 616 dias atrás, surge Paul Arriola, extremo que continua a destacar-se ao serviço do DC United, previamente apontado pelo Soccer em Português como um dos rostos criados nos Sub-20 que irão construir o futuro da selecção norte-americana.

PRINCIPAIS NOVIDADES

Num desenho táctico que apresenta mais novidades do que permanências em comparação com a trágica noite em Trinidad e Tobago, quatro jogadores não chegaram ainda à dezena de internacionalizações. Berhalter adoptou um 4x3x3 ligeiramente diferente daquele a que nos habitou em Columbus, mas os intérpretes cumpriram, mesmo sem tanta experiência internacional. Uma das grandes surpresas do torneio foi a inclusão de Tyler Boyd na convocatória. Após ter representado a Nova Zelândia por cinco ocasiões, solicitou uma autorização para poder jogar pelos Estados Unidos, e em boa-hora o fez. O extremo do V. Guimarães foi uma das grandes estrelas da partida de ontem, ao bisar no seu segundo jogo internacional. Dentro deste grupo que ainda não atingiu os dois dígitos, encontramos os defesas Nick Lima (San Jose Earthquakes), Walker Zimmerman (Los Angeles FC) e Aaron Long (New York Red Bulls), todos eles talentos emergentes da MLS. Finalmente, é obrigatório referir as presenças de Zack Steffen (Manchester City) e de Weston McKennie (Schalke 04), figuras que prometem manter-se nos alinhamentos norte-americanos durante os próximos anos.

PERSPECTIVAS NA GOLD CUP

Uma goleada por 4-0 ao 177º classificado ranking FIFA pouco nos diz sobre as hipóteses dos Estados Unidos na competição continental. Contudo, olhando para o cenário de transição em que nos encontramos, e atendendo à confiança que Gregg Berhalter insiste em não transmitir nas suas comunicações, é impossível atribuir o favoritismo aos norte-americanos no que concerne o título. As ausências por lesão de Tyler Adams, John Brooks ou DeAndre Yedlin afectam a qualidade da equipa, e afastam-na do patamar mexicano. No entanto, convém não esquecer a dimensão competitiva da CONCACAF. Tudo o que não termine numa presença na final de um torneio disputado em casa, será difícil de justificar. A selecção dos Estados Unidos não tem tempo para edificar outro falhanço. Está na hora de dar início à tão desejada inversão de ciclo.

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