Análise

EUA: personagens secundárias procuram protagonismo na Gold Cup

António Ribeiro / July 8, 2021

Pouco mais de um mês se passou desde a importante conquista da Liga das Nações, e a selecção norte-americana já se prepara para defrontar novamente os melhores representantes da CONCACAF. No entanto, a sobreposição da Gold Cup 2021 ao tradicional calendário de pré-época europeu fez com que a convocatória dos Estados Unidos tenha sofrido uma profunda descaracterização. Entre os 23 chamados, apenas quatro foram dispensados dos clubes do Velho Continente para poderem disputar a prova pelo seu país, e somente três marcaram presença na final ganha ao México. Estamos assim perante um plantel de segundas linhas, dominado por jogadores da Major League Soccer, pelo que as expectativas para esta Gold Cup terão de ser obrigatoriamente cautelosas. O Soccer em Português decidiu traçar um breve perfil desta convocatória alternativa, identificando as figuras que mais têm a ganhar com esta oportunidade concedida por Gregg Berhalter.  

Comecemos por ressaltar a reduzida experiência internacional que a equipa dos Estados Unidos deverá colocar no relvado. Os dois jogadores com mais internacionalizações do grupo, destacados dos demais, Brad Guzan (64) e Gyasi Zardes (56), não se perfilam sequer como prováveis titulares na competição. Por outro lado, são catorze os convocados que não atingiram a dezena de internacionalizações, sendo que cinco deles ainda estão por estrear. Ora isto significa que teremos muitas caras novas a querer agarrar a oportunidade de apanhar o comboio do ciclo de qualificação para o Mundial, e quiçá, garantir a sua presença no Qatar.  

Uma delas é Matt Turner, individualidade que figura entre os melhores guarda-redes do campeonato. Aos 27 anos, o jogador que tem sido essencial para o êxito do New England Revolution na MLS vai ser recompensado com a titularidade na Gold Cup. Embora não seja dos melhores a jogar com os pés, Turner merece o voto de confiança, e tudo fará para conquistar a vaga de terceiro guarda-redes. Alguns especialistas defendem inclusive que Turner tornar-se-á a curto prazo melhor do que Zack Steffen. Veremos como ele se comporta.  

À sua frente, no eixo da defesa, joga-se o quarto posto na hierarquia de centrais norte-americana entre Walker Zimmerman e Miles Robinson. Eleito defesa do ano da MLS na última temporada ao serviço do Nashville SC, Zimmerman continua a apresentar uma consistência notável ao longo do tempo, e aos 28 anos, terá a chance de comandar a defensiva dos Estados Unidos numa competição continental. Grande, forte, influente, confiante e disciplinado, revela-se uma ameaça terrível no jogo aéreo, facturando recorrentemente em lances de bola parada. A seu lado terá Miles Robinson, mais jovem, mas não menos promissor. O central do Atlanta United permanece impassível nos lances de um contra um, e quererá certamente dar provas da sua evolução qualitativa. 

Nas laterais defensivas, narrativas distintas. Na faixa direita, Reggie Cannon tem condições para se bater com os melhores do seu país, e verá na Gold Cup uma oportunidade primordial para se destacar da concorrência que está ausente. Após um ano bastante positivo no Boavista a título individual, foi dos únicos desta convocatória a fazer parte do grupo que conquistou a Liga das Nações. Já na esquerda, nenhuma das unidades parece oferecer garantias suficientes para entrar na rota do Mundial, pelo que a sua presença na competição tem tanto de casual como de, provavelmente, inócuo. 

As maiores indefinições residem no sector intermédio. Poucos imaginam de que forma as individualidades convocadas poderão encaixar juntas, embora seja certo que o craque a seguir seja Kellyn Acosta. O jogador versátil do Colorado Rapids perdeu uma aventura na Europa por imposição do antigo clube, lesionou-se com gravidade, e depois da recuperação, mantém-se determinado a mostrar que é um jogador de selecção. Tecnicamente evoluído, emerge como presença quase certa em todas as etapas do ciclo do Mundial. Outros jogadores em forma como Sebastian Lletget, Cristian Roldan, ou mesmo Eryk Williamson, podem garantir o devido apoio, mas o provável desenho do meio-campo parece desinteressante, no mínimo. Entre os médios recrutados não existe criatividade nem combatividade suficientes, num universo estranho onde as seis opções disponíveis são todas bastante semelhantes. 

O elemento mais internacional entre os prováveis titulares ocupa o trio ofensivo norte-americano. Paul Arriola é um dos únicos resistentes daquele fatídico encontro contra Trinidad e Tobago que afastou a selecção do Mundial de 2018, e deseja colocar esse momento para trás das costas. O veloz extremo do DC United surge como a unidade mais imprevisível e desequilibradora do plantel, e pode muito bem ser a cara de um eventual sucesso na competição. Para além de atormentar as defesas adversárias, Arriola terá a nobre missão de alimentar a nova grande esperança do soccer norte-americano, Daryl Dike.  

https://www.youtube.com/watch?v=9OTOodGVAGk

Ora se todos os nomes acima referidos lutarão sobretudo por mais espaço em futuras convocatórias, Dike, pelo contrário, aparece na Gold Cup com o propósito de se afirmar como o ponta-de-lança nº 1 do país, e essa é uma história que vale a pena acompanhar. Este robusto avançado de 21 anos deu nas vistas ao serviço do Orlando City em 2020, na sua primeira época como profissional. O impacto foi tão grande que apareceu rapidamente uma proposta de empréstimo do Barnsley em Fevereiro. Dike não precisou de qualquer adaptação, tendo apontado 9 golos em 19 partidas do Championship. Contudo, e apesar de certos rumores, a cláusula de compra não foi activada, e nenhuma outra proposta foi colocada em cima da mesa. Voltou em Junho para a MLS, onde já fez mais dois golos em quatro jogos. Será este o tão aclamado homem-golo norte-americano? Com um grupo composto por personagens maioritariamente secundárias, os Estados Unidos bem precisam que ele o seja. 

Tendo em consideração todas as condicionantes na formação da convocatória, o que devemos esperar dos Estados Unidos nesta Gold Cup? Sem desprezar as ambições competitivas do grupo, que entrará sempre em campo almejando o triunfo, podemos afirmar que uma presença na final, à imagem de 2019, já seria um desfecho bastante satisfatório. Os rivais mexicanos não estão tão dependentes dos clubes europeus na hora de escolher o seu plantel, e conseguem encontrar soluções bastante satisfatórias na Liga MX, pelo que se perfilam como favoritos quase absolutos à conquista de mais um troféu.

LISTA DE CONVOCADOS 

Guarda-redes: Matt Turner (New England Revolution | 1 J), Sean Johnson (New York City FC | 9 J), Brad Guzan (Atlanta United | 64 J). 

Defesas: Reggie Cannon (Boavista | 18 J / 1 G), Sam Vines (Colorado Rapids | 3 J / 0 G), Donovan Pines (DC United | sem internacionalizações), Walker Zimmerman (Nashville SC | 14 J / 2 G), Miles Robinson (Atlanta United | 3 J / 1 G), James Sands (New York City FC | sem internacionalizações), Shaquell Moore (Tenerife | 5 J / 0 G) e George Bello (Atlanta United | 1 J / 0 G). 

Médios: Gianluca Busio (Sporting KC | sem internacionalizações), Cristian Roldan (Seattle Sounders | 20 J / 0 G), Jackson Yueill (San Jose Earthquakes | 12 J / 0 G), Sebastian Lletget (Los Angeles Galaxy | 24 J / 7 G), Eryk Williamson (Portland Timbers | sem internacionalizações) e Kellyn Acosta (Colorado Rapids | 31 J / 2 G). 

Avançados: Paul Arriola (DC United | 35 J / 8 G), Nicholas Gioacchini (Caen | 3 J / 2 G), Gyasi Zardes (Columbus Crew SC | 56 J / 12 G), Daryl Dike (Orlando City SC | 3 J / 1 G), Matthew Hoppe (Schalke 04 | sem internacionalizações) e Jonathan Lewis (Colorado Rapids | 7 J / 2 G). 

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