Análise

Favoritos, surpresas e desilusões da MLS

António Ribeiro / October 9, 2019

A última noite de Domingo não serviu apenas para descobrir quem irá representar Portugal no próximo ciclo legislativo, mas também para revelar a constituição dos Playoffs da Major League Soccer. A Fase Regular da competição chega assim ao seu término, averbando em 2019 uma série de recordes sem igual, e deixando-nos curiosos quanto ao desfecho das eliminatórias decisivas. Para quem não conseguiu acompanhar a principal prova norte-americana de clubes, o Soccer em Português dá conta dos principais destaques colectivos do ano, antevendo igualmente aquilo que poderá vir a acontecer nos Playoffs a partir do próximo dia 19.

LOS ANGELES FC: OS MELHORES DE SEMPRE

O jovial emblema californiano encerrou a Fase Regular da segunda temporada da sua curta história com pompa e circunstância, ao superar confortavelmente toda a concorrência, batendo inclusive o recorde de pontos da competição (72), que pertencia ao New York Red Bulls (71). Foram oito pontos de avanço sobre o perseguidor mais próximo, o New York City FC, e 14 pontos sobre o terceiro classificado, o Atlanta United. Igualou o recorde absoluto de golos marcados, com 85 remates certeiros em 34 partidas (ainda que com mais dois jogos do que os outros detentores da marca), assumiu-se como a defesa menos batida do ano (37 golos), e mais impressionante do que isso, derrubou o recorde de diferencial entre golos marcados e sofridos (+48). Como termo de comparação, o New York City FC, segundo classificado neste parâmetro, ficou 27 golos atrás deste registo. Como explicar estes números?

Comecemos por Carlos Vela, o mais que provável contemplado com o merecido reconhecimento de Jogador do Ano. Atravessa a melhor época da sua carreira, após ter pulverizado o recorde de golos da Major League Soccer, com 34 tentos em igual número de jogos. Além disso, é medalha de bronze no que diz respeito às assistências, com 15 passes para golo. Fazendo as contas, o extremo mexicano contribuiu directamente para 49 golos da sua equipa (57,6 %), uma marca impressionante e invulgar para quem actua habitualmente nas faixas laterais. Ainda assim, um eventual regresso à selecção do México parece fora de questão, depois do jogador ter recusado a convocatória de ‘Tata’ Martino para a Gold Cup no último Verão.

Vela influencia bastante, como pudemos conferir, mas não está sozinho. Na faixa contrária encontramos o jovem uruguaio Diego Rossi, que vem reforçar o poder das alas californianas, ao somar 16 golos e 7 assistências. Época de afirmação de um jogador que continua a piscar o olho à selecção uruguaia. Para quando uma oportunidade?

Embora a parceria Vela & Rossi constitua o motor ofensivo do Los Angeles FC, e a principal razão do inegável sucesso de 2019, é imperioso mencionar as épocas superlativas de jovens promessas como Eduard Atuesta, Latif Blessing ou Eddie Segura. Nas mãos de Bob Bradley, técnico que regressou aos Estados Unidos seis anos depois de abandonar o comando da selecção norte-americana, este conjunto surge como favorito absoluto à conquista do troféu. Convém lembrar ainda que caso o clube consiga manter as figuras centrais no plantel durante o mercado de Inverno, o Los Angeles FC será uma equipa a não perder de vista na luta pela Liga dos Campeões na próxima Primavera.

NEW YORK CITY FC E ATLANTA UNITED: PROCURANDO CONTRARIAR O FAVORITISMO

Obviamente que tudo pode acontecer quando se trata de eliminatórias a uma mão, mas os dois conjuntos em melhores condições de contrariar o domínio absoluto dos campeões da Fase Regular são o New York City FC e o Atlanta United, ambos da Conferência oposta. Quando elencamos os registos meritórios do Los Angeles FC, por exemplo, os nova-iorquinos surgem invariavelmente no segundo posto das estatísticas. O catalão Domènec Torrent tem protagonizado um excelente trabalho na liderança da equipa, após a saída de Patrick Vieira no Verão de 2018, e até superou o técnico francês em número de pontos conquistados. Num clube que abrandou o acolhimento de estrelas do futebol mundial como foram os casos de David Villa, Andrea Pirlo ou Frank Lampard, o antigo adjunto de Pep Guardiola granjeou potencial colectivo com outras referências. A começar pelo veterano argentino Maxi Moralez, líder da prova no capítulo das assistências, com 20 passes para golo. Também no meio-campo encontramos o internacional finlandês Alexander Ring, capitão da equipa, e portentoso pilar do New York City FC.

Em Atlanta, as referências são outras, e as expectativas dos campeões em título também, agora comandados por Frank de Boer. Mesmo sem a nota artística dos tempos de Martino, e com alguma inconsistência pelo caminho, a verdade é que o treinador holandês terminou a Fase Regular nos lugares cimeiros da Major League Soccer. Decidido a inverter o ciclo de experiências negativas na Europa, de Boer tem a motivação e plantel suficientes para uma caminhada de sucesso. Josef Martínez mantém o seu instinto matador intacto, com 27 golos marcados, acumulando uma marca total notável de 77 remates certeiros em 83 partidas da Major League Soccer. No eixo defensivo, Miles Robinson e Leandro González Pirez formam a melhor dupla de centrais da prova, sendo que o norte-americano começa a ser presença habitual na selecção norte-americana.

REVELAÇÕES E DESILUSÕES

Olhando para as condições de partida de todos os competidores do torneio, nenhum deles protagonizou um percurso tão surpreendente pela positiva quanto o Real Salt Lake. Fora da órbita dos Playoffs nas antevisões, foi somando ponto atrás ponto, até garantir a sexta posição na classificação global. Mesmo com a dispensa de Mike Petke em Agosto, afastado devido a comentários homofóbicos dirigidos a um árbitro, o emblema do Utah continuou a carburar sob a orientação do interino Freddy Juarez. Dentro das quatro linhas, a estrela mais brilhante tem sido Albert Rusnak. Peça importante na qualificação da Eslováquia para o Campeonato da Europa, o médio criativo assume igualmente um papel crucial nas aspirações do Real Salt Lake. Dez golos e cinco assistências são números que abrem o apetite para os Playoffs.

No sentido inverso, o prémio de desilusão do ano pertence ao Chicago Fire. O técnico Veljko Paunovic chegou ao clube em finais de 2015, cotado pela conquista do Campeonato do Mundo de Sub-20, para um projecto a longo prazo. Em quatro épocas, falhou o acesso aos Playoffs em três delas, e este ano fê-lo de forma incompreensível. O plantel reunia figuras proeminentes como Nico Gaitán, Nemanja Nikolic, Bastian Scweinsteiger, Aleksandar Katai ou Przemyslaw Frankowski, e nem a mudança de dono consumada em Setembro pode justificar tal desaire. Falta de identidade no jogo, ausência completa de arrojo, e muita estratégia de contenção quando existiam condições para mais e melhor. Veremos se a nova administração pretende manter Paunovic no cargo.

PLAYOFFS

CONFERÊNCIA ESTE

Atlanta United – New England Revolution (19 de Outubro | 18h)

Toronto FC – DC United (19 de Outubro | 23h)

Philadelphia Union – New York Red Bulls (20 de Outubro | 20h)

(New York City FC está automaticamente apurado para a próxima eliminatória)

CONFERÊNCIA OESTE

Seattle Sounders FC – FC Dallas (19 de Outubro | 20h30)

Real Salt Lake – Portland Timbers (20 de Outubro | 3h)

Minnesota United – Los Angeles Galaxy (21 de Outubro | 1h30)

(Los Angeles FC está automaticamente apurado para a próxima eliminatória)

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