Análise

O balanço dos Estados Unidos no Qatar só se faz apontando para 2026

António Ribeiro / December 15, 2022

Após o humilhante interregno de 2018, a selecção norte-americana de futebol voltou a marcar presença no Campeonato do Mundo, tendo-se comportado condignamente. Agora que as cabeças já estão mais frias depois da custosa eliminação às mãos dos Países Baixos, é altura de avaliar francamente o que se passou, sempre com os olhos postos em 2026, pois é lá que reside o grande sonho futebolístico dos Estados Unidos. O ‘Soccer em Português’ achou por bem dar o seu parecer acerca da performance da equipa no Qatar, e destapar um pouco o véu daquilo que poderá ser este grupo daqui a quatro anos.

Os Estados Unidos chegaram a este Campeonato do Mundo na condição indiscutível de maior potência futebolística da América do Norte, uma posição talvez nunca experienciada com tanta propriedade. A conquista da Liga das Nações com a equipa mais jovem de sempre numa final e depois da Gold Cup com um plantel secundário, tudo isto no espaço de dois meses, são sinais que comprovam esta ideia. Ainda assim, competir no Mundial é outro patamar para equipas da CONCACAF, tanto que as outras três representantes (México, Canadá e Costa Rica) ficaram pelo caminho na Fase de Grupos. Os norte-americanos conseguiram escalar esta montanha sozinhos, mas não se aguentaram na fase a eliminar diante de uma selecção de elite como é a dos Países Baixos.

Nesse jogo dos oitavos-de-final, por exemplo, notou-se uma incapacidade de conter lances de virtuosismo individual dos neerlandeses, isto para além dos pequenos erros habitualmente fatais para quem sai derrotado do encontro. Por outro lado, existiu uma falta de profundidade no plantel evidente que necessita ser colmatada a tempo de 2026, caso os norte-americanos queiram dar um salto competitivo. Individualmente falando, destaque para o guarda-redes Matt Turner que agarrou meritoriamente a titularidade, e que precisa de deixar o Arsenal em breve, para que o possamos ver em acção mais vezes.

Pese embora a penosa eliminação, podemos afirmar que a prestação da selecção dos Estados Unidos no Campeonato do Mundo revelou-se bastante razoável e satisfatória. O grupo sempre pareceu focado e unido na sua missão futebolística, com destaque para o jovem trio do meio-campo composto por McKennie, Musah e Adams, que demonstraram personalidade e capacidade ao longo do torneio, despertando certamente algum interesse no mercado de transferências. O seleccionador Gregg Berhalter continua igual a si próprio, autor de um trabalho minucioso de observação do adversário e adaptação do seu conjunto para explorar as fragilidades dos oponentes. A equipa parece estar com o seleccionador, mas Berhalter continua a ser contestado internamente, o que nos leva ao próximo ponto: o futuro

Quando fazemos algum balanço desta equipa no Qatar, temos obrigatoriamente de o contextualizar com o futuro, pois estamos perante um grupo de jogadores muito jovens (e promissores), em preparação para disputar o próximo Mundial no seu território. No entanto, quem estará a comandar este futuro? Gregg Berhalter teima em não reunir consenso dos norte-americanos, e a possibilidade de um eventual afastamento ao primeiro falhanço pode comprometer o seu contributo no ciclo para o Campeonato do Mundo, e dar lugar a outro técnico. Os críticos falam habitualmente do seu conservadorismo face a uma das melhores gerações de futebolistas do país, argumento comum em várias nações. Existem igualmente críticas mais justas, como o facto de esta equipa não demonstrar capacidade física para aguentar o tipo de jogo que Berhalter quer imprimir durante os 90 minutos. Nas partidas da Fase de Grupos, a quebra física no decorrer das segundas partes era bastante visível, sobretudo na partida inicial frente ao País de Gales. Também as suas hierarquias de soluções na hora das substituições levantaram alguns sobrolhos. Giovanni Reyna, por exemplo, poderia ter acumulado mais minutos, ao invés de outros jogadores que saltaram mais rapidamente do banco. No entanto, os resultados práticos de Berhalter desde que assumiu o comando dos Estados Unidos são inegáveis e suficientes para justificar a sua continuidade até 2026. Veremos qual será o desfecho desta novela.

Estando Berhalter ou não, o mais importante de tudo isto é que a selecção norte-americana chegará a 2026 com grande parte dos seus protagonistas no seu auge futebolístico, e com muitas outras jovens promessas na manga. Entre os principais nomes na calha para essa convocatória teremos Christian Pulisic à cabeça, acompanhado de Giovanni Reyna, Jesus Ferreira, Sergiño Dest, Malik Tillman, Weston McKennie, Gianluca Busio, Caden Clark, Yunus Musah, Brenden Aaronson, Ricardo Pepi, Serge Ngoma, Cade Cowell, Chris Richards, Justin Che, Joe Scally, Obed Vargas, Tyler Adams, Timothy Weah, Gabriel Slonina, Djordje Mihailovic, John Tolkin, Matt Turner, entre muitos outros. O arranque deste ciclo entusiasmante acontecerá já em Janeiro, na habitual concentração anual da selecção, pontuada por dois encontros amigáveis com a Sérvia e a Colômbia. Seguem-se os primeiros compromissos oficiais pós-Mundial em Março, referentes à Fase de Grupos da Liga das Nações. Depois teremos três anos de um processo evolutivo que valerá a pena acompanhar, de modo que o brilho expectável dos Estados Unidos em 2026 não seja tão surpreendente.

O ´Soccer em Português’ decide fechar o presente artigo com um verdadeiro exercício especulativo, apresentando um possível XI Base norte-americano para o próximo Campeonato do Mundo.

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