Entrevista

Um americano em Pinhal Novo

António Ribeiro / May 8, 2014

No plantel do Pinhalnovense também se fala inglês. William Williams partiu de Denver à procura de uma oportunidade e agarrou-a. Durante a sua primeira época em Portugal, a aprendizagem é palavra-chave, enquanto novos desafios se apresentam diante do guardião norte-americano.

No Campo de Jogos Santos Jorge, casa do Clube Desportivo Pinhalnovense, decorre mais um treino matinal da equipa de futebol sénior. Sob o olhar atento do técnico principal Carlos Lóia, os jogadores disputam um jogo amigável de futebol 7. Entre ordens e palavras de incentivo, um dos guarda-redes mostra-se particularmente interventivo. «Sobe! Boa!», grita energicamente William Williams, fazendo-nos esquecer por momentos que o português não é a sua língua nativa.

Oriundo da cidade de Denver, no Estado de Colorado, William abraçou o futebol de forma natural. «Todos jogavam futebol até chegarem à escola secundária, sendo depois dada a opção de elegermos outros desportos. Quanto a mim, preferi ficar no futebol». Relativamente à escolha da posição, explica que «sempre gostei de ser guarda-redes, e fui-me safando bastante bem».

Aos 16 anos entrou no prestigiado Colorado Rush Soccer Club, instituição formadora que oferece condições de excelência a mais de 5.000 jogadores jovens por época. O desejo de conhecer mais do seu próprio país fê-lo mudar de Estado na altura em que ingressou na universidade. A 2500 km de casa concluiu uma licenciatura em Filosofia, na St. Andrews University, onde desenvolveu as suas aptidões através do futebol universitário.

Seguiram-se experiências em clubes de menor dimensão em Atlanta e Boston. «As equipas estão tão espalhadas, que é difícil construir uma reputação. Nos EUA, se não entrares logo na Major League Soccer (principal competição de clubes norte-americana), é muito difícil ter oportunidades para te afirmares», clarifica o guardião do Pinhalnovense.

Foi em Boston que conheceu o treinador Ben Figueiredo, principal responsável pela sua aventura em território português. Ao saber da ambição europeia de William, sugeriu que tentasse a sua sorte no CD Pinhalnovense, emblema que ele próprio representou como jogador antes de rumar aos Estados Unidos. Depois de um período experimental bem-sucedido no final da temporada passada, o clube optou por incluir o norte-americano no plantel.

IMG_8896 Fotografia: Pedro Costa

Novo país, novos hábitos

Atualmente a viver em Lisboa com um colega de casa, William assume que «andar a pé» era algo a que não estava muito habituado. «Nos Estados Unidos toda a gente conduz para todo o lado, eu inclusive. Aqui é mais fácil porque posso apanhar o autocarro, o comboio, ou até ir a pé». Confessa-se bastante satisfeito com a experiência em Portugal, e salienta a afabilidade de todos aqueles com quem se tem cruzado.

No que diz respeito à forma de trabalhar, também regista diferenças significativas. Mesmo na posição de guarda-redes, nota que «os treinos nos Estados Unidos são mais orientados para o fitness. Aqui são muito mais técnicos, sob o princípio de que a bola faz todo o trabalho nas movimentações da equipa».

A integração no plantel

«É para o New York Times?», brinca um dos colegas de equipa no final do treino, apercebendo-se que o seu companheiro norte-americano era o alvo do interesse jornalístico. O comentário divertido reúne alguns sorrisos, que prenunciam o saudável entrosamento existente entre William e os restantes jogadores, essencial para o êxito, tanto individual como coletivo.

Jorge Peixoto, capitão do Pinhalnovense, encontra-se ciente do papel que tem de assumir junto dos novos elementos. Segundo o próprio, passa por «ajudar seja quem for, seja jogador português ou estrangeiro, a ambientar-se à realidade do clube da melhor forma possível, para que se sinta bem». Revela que a comunicação é ainda uma barreira para o guardião, mas não tem dúvidas em afirmar que se trata de «uma mais-valia para a equipa». O líder do balneário realça também a contribuição do outro guarda-redes Pedro Alves, na «evolução estupenda» do seu colega.

«Quando começámos a época, tínhamos um treinador de guarda-redes (Cândido Rego), que foi bastante importante no desenvolvimento das capacidades do William. Por volta da altura do Natal ele saiu, devido a limitações financeiras, e foi aí que eu fiquei como responsável pelo treino de guarda-redes», conta Pedro Alves. A sua ideia de treino coincide com aquela que o treinador anterior tinha, pelo que se tratou de dar continuidade ao que já estava a ser feito. Elogia a evolução do seu companheiro de equipa, notando que desde o início da presente temporada, o desenvolvimento das capacidades é claramente percetível.

Aos 25 anos, William Williams ambiciona prolongar a sua estadia por terras europeias ao máximo. «Adoro que aqui tudo seja sobre futebol», avança o norte-americano, aspirando novas oportunidades para demonstrar o seu talento. A prosperidade e o sucesso apregoados pelo “Sonho Americano” conhecem uma espécie de inversão conceptual no futebol. William é exemplo disso mesmo, ao deixar a sua terra natal em busca de um “Sonho Europeu”.

Fotografia: Pedro Costa

Reportagem publicada no Diário da Região, a 7 de Maio de 2014

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