Entrevista, Futebol Universitário

Braudílio Rodrigues: o jogador que luta por um lugar ao sol nos EUA

António Ribeiro / April 11, 2024

Depois de ter brilhado no futebol universitário norte-americano, Braudílio Rodrigues tornou-se o terceiro jogador com nacionalidade portuguesa a ser seleccionado no SuperDraft da Major League Soccer, ainda no começo de 2023. Apesar deste reconhecimento, o avançado luso-guineense não deu o salto imediato para a MLS, tendo cumprido uma temporada no terceiro escalão. A experiência foi tão boa que acabaria por valer um contrato profissional com o Seattle Sounders, um dos principais emblemas norte-americanos. Em 2024, Braudílio Rodrigues volta a bater à porta da MLS, mais preparado do que nunca. Saiba mais sobre o percurso deste futebolista através de uma entrevista exclusiva ao Soccer em Português.

O SALTO PARA OS ESTADOS UNIDOS

Braudílio Rodrigues estava a cumprir o seu primeiro ano enquanto futebolista senior, ao serviço do Sintra Football, quando se instalou o período pandémico que acabaria por ditar o final abrupto da temporada do Campeonato de Portugal. Seguiu para Inglaterra, onde fez alguns testes, mas uma lesão prolongada comprometeu essa hipótese. Durante o período de recuperação, um amigo sugeriu-lhe a possibilidade de tentar a sua sorte nos Estados Unidos. Falou-lhe da Sports4Me, empresa portuguesa «especializada na preparação e colocação de jovens atletas-estudantes em diferentes desportos no sistema de educação americano através de bolsas desportivas e/ou académicas».

O talento de Braudílio valeu-lhe uma bolsa de estudos na Franklin Pierce University, em New Hampshire, onde está prestes a completar o curso em Business Management. Confessa que «não foi fácil conciliar os estudos com o futebol. No entanto, com muita dedicação, trabalho, e com a ajuda que tive, pude aprender bastante e ter boas notas». A universidade situa-se em Rindge, pequena cidade que contabiliza cerca de seis mil habitantes, realidade que resultou numa maior proximidade entre a equipa, segundo Braudílio. «Por ser uma escola pequena, numa zona bastante isolada, faz com que sejas obrigado a passar mais tempo com as pessoas de lá. Assim ficámos a conhecermo-nos melhor, algo que não iria acontecer numa escola grande, em que existem mais distrações, ou muitas outras coisas para fazer. Isso foi muito bom, porque a equipa desenvolveu uma relação muito boa, que se refletiu no campo. Nós éramos realmente uma família, a nossa cultura era fantástica».

O auge da sua passagem pelo futebol universitário deu-se em 2022, ano excecional, tanto a nível coletivo, como a nível individual. Os Franklin Pierce University Ravens sagraram-se campeões nacionais da Division II (segundo escalão universitário norte-americano), com um registo impressionante e invencível de 25 vitórias e um empate. Braudílio Rodrigues foi eleito Jogador do Ano da competição, após ter somado 20 golos e 22 assistências. «Pode parecer cliché, mas nunca teria tido o sucesso individual que tive, nunca estaria onde estou neste momento, sem os meus colegas, sem o staff a ajudar-me em tudo o que precisava, inclusive fora do campo».

O PAPEL DECISIVO DA SPORTS4ME

A época de sucesso de Braudílio não passou despercebida, tendo sido selecionado no MLS SuperDraft de 2023, na 55ª posição, pelo New York City FC. Depois de João Moutinho em 2018 (1ª escolha) e de Paulo Lima em 2022 (32ª escolha), Braudílio Rodrigues tornou-se assim no terceiro futebolista de nacionalidade portuguesa a ser recrutado no Superdraft da MLS, e o segundo através da Sports4Me. Muitos mais devem seguir o mesmo caminho já na próxima edição do Superdraft, em dezembro, segundo João Pedro Carvalho, fundador e diretor-geral da Sports4Me. «Se tudo correr bem, prevemos ter quatro atletas no próximo Draft».

Contudo, João Pedro Carvalho explica que colocar futebolistas na MLS trata-se apenas de um reflexo do trabalho realizado e não do principal objetivo da empresa. «Chegar à MLS é um bónus para os jogadores e bom para nós em termos de marketing, mas não é disso que estamos à procura. Abre portas a outros atletas com um patamar desportivo superior, mas não é o nosso objetivo. O nosso objetivo é colocar os atletas nos Estados Unidos e garantir que eles têm uma experiência académica positiva. Tudo o que o futebol lhes puder trazer como extra, melhor para eles, é a cereja no topo do bolo». Fundada em 2016, a Sports4Me já colocou mais de 300 atletas em universidades norte-americanas, perfazendo um valor global em bolsas arrecadadas superior a 35 milhões de dólares.

O futebol universitário norte-americano perfila-se cada vez mais como uma saída aconselhável para jovens atletas portugueses, na medida em que lhes «permite conciliar os estudos com o futebol, sair da zona de conforto e conviver com outras mentalidades e maneiras de trabalhar. Ganham um conjunto de ferramentas importantíssimas para a vida e para o mercado de trabalho, sem terem de abdicar de nenhuma das vertentes, desportiva e académica», esclarece João Pedro Carvalho.

DEPOIS DO SUPERDRAFT

Apesar de ter sido selecionado no Superdraft, curiosamente Braudílio Rodrigues nunca foi opção para o New York City FC. «Sinceramente, nunca percebi até hoje por que motivo o New York City FC me escolheu. Estive lá na pré-temporada, durante uma semana, mas fui posto de lado, sem participar em nada com a equipa. Nunca entendi o que aconteceu, por que razão não treinava sequer com a equipa, mas foi algo que nunca levei a peito. Eles tinham as ideias deles e eu respeitava isso». Felizmente para Braudílio Rodrigues, outros emblemas continuavam atentos ao desenrolar da situação. O Tacoma Defiance, equipa de reservas do Seattle Sounders que atua no terceiro escalão do futebol norte-americano, chegou-se à frente com uma proposta.

«Não fiquei desapontado de saltar do Draft para o Tacoma Defiance. Vi aquilo como uma oportunidade. Se tivesse ficado no New York City FC, ficaria talvez a jogar na segunda equipa. Acabei por vir para uma organização muito melhor, que viu algo em mim e que me deu a oportunidade que eu queria. Agarrei-a e trabalhei bastante», revela Braudílio Rodrigues. O avançado luso-guineense aproveitou a oportunidade concedida e assumiu-se como uma das principais figuras da equipa em 2023. O Tacoma Defiance ficou-se pelos quartos-de-final dos Playoffs, enquanto Braudílio Rodrigues atingiu a marca dos 17 golos, inédita na história do clube. «Um dos meus objetivos da temporada era ser promovido à primeira equipa, mas eu sabia que tinha de me focar no momento. O momento era o de trabalhar, de evoluir, de marcar golos e de assistir os meus colegas, de desenvolver-me como pessoa e líder, e de ganhar os jogos. Só assim sairíamos todos beneficiados».

O reconhecimento e a respetiva chamada à primeira equipa acabariam mesmo por chegar, com Braudílio Rodrigues a assinar um contrato pelo Seattle Sounders no começo de 2024. No entanto, uma lesão muscular sofrida durante a pré-época tem atrasado a sua estreia na Major League Soccer, prova que caminha para a sua oitava ronda da Fase Regular. O seu regresso aos relvados está para muito breve, até porque o Seattle Sounders aposta recorrentemente em futebolistas promovidos da segunda equipa. No entanto, a tarefa de Braudílio Rodrigues não se antevê nada fácil. O Seattle Sounders faz parte da elite da MLS e tem peças na frente de ataque bastante consolidadas. A promessa argentina recém-contratada, Pedro de la Vega, os internacionais norte-americanos, Cristian Roldan e Jordan Morris, assim como o brasileiro Léo Chú, são extremos que partem na frente da hierarquia da equipa. Braudílio Rodrigues terá de se bater por todos os minutos que tiver ao seu alcance, contra a concorrência direta de Danny Musovski, Paul Rothrock e Dylan Teves, colegas que lutam para amealhar minutos, saltando do banco de suplentes.

Expetativas para 2024? «Quero continuar a ser o Braudílio, independentemente da dimensão do palco em que estou, e quero ajudar a equipa a ganhar jogos. Tenho de trabalhar bastante, colocar-me ao nível físico que a equipa e o campeonato exigem, e entender o que a equipa técnica pretende. Historicamente, o Seattle Sounders sempre foi candidato ao título, mas temos de encarar a realidade jogo a jogo», conclui Braudílio Rodrigues.

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