O luso-canadiano Marc Dos Santos é amplamente visto como um dos treinadores mais promissores do futebol norte-americano. Depois de um percurso notável nas divisões secundárias, estreou-se esta temporada na Major League Soccer, ao comando do Vancouver Whitecaps. O Soccer em Português tentou perceber junto do jovem técnico quais as suas principais expectativas e desafios ao ingressar neste novo projecto.
Antes mesmo de nos debruçarmos sobre as declarações desta entrevista exclusiva, vale a pena resumir o trajecto profissional de Marc Dos Santos, que prima pela sua diversidade. Deu os primeiros passos em 2007, no extinto emblema canadiano Trois-Rivières Attak, e pouco depois rumou ao Montreal Impact, inicialmente na condição de adjunto. Virou técnico principal em menos de um ano, e sagrou-se campeão do segundo escalão norte-americano logo na época inaugural. Seguiu-se uma aventura no Brasil, pontuada pelo trabalho em várias camadas jovens. Retornou à América do Norte em 2014, onde acumulou várias experiências no segundo escalão, e voltou a conquistar o troféu em 2017, ao serviço do San Francisco Deltas. Recebeu o convite dos estreantes Los Angeles FC para ser adjunto de Bob Bradley, um dos treinadores norte-americanos mais credenciados da história, e «uma pessoa importante na minha formação como treinador», começou por revelar Marc Dos Santos.
O seu honroso palmarés nas divisões secundárias fê-lo dar o salto para a principal competição de clubes norte-americana, a Major League Soccer, e assinar pelo Vancouver Whitecaps. Um pouco à imagem do técnico argentino Giovanni Savarese, tricampeão da segunda divisão em cinco épocas, contratado pelo Portland Timbers no último ano, onde se sagrou surpreendentemente finalista vencido da prova.
Marc Dos Santos chegou ao emblema canadiano em Novembro, com muitos futebolistas na porta de saída, e claras instruções para reformular o plantel e a filosofia do clube. «O trabalho de reconstrução em Vancouver não foi só meu. O clube queria mudar a cultura e mudar aquilo que nós tínhamos, criar uma base forte para o futuro. Uma das coisas era ter um plantel mais novo, com jogadores com maior potencial de revenda, e depois queríamos características como velocidade e tomada de decisão rápida».
Sobre o conjunto de jogadores que tem disponível neste momento, o treinador luso-canadiano admite que existem naturalmente lacunas, num processo de reconstrução que se prevê demorado. «Creio que os dois, três primeiros meses são importantes para avaliar quando tens um plantel novo. Como é que os novos jogadores do clube se estão a adaptar, como é que eles estão a crescer, e depois pouco a pouco começas a ver as dificuldades que podes ter, as posições que precisas de fortalecer, e isso tudo não é feito só numa janela de transferências. É preciso tempo, e duas ou três janelas para reconstruir um plantel, e existem ainda lacunas, posições que precisamos de reforçar, e esperamos poder fazê-lo nas próximas janelas de transferências».
E como em todos os cenários de reconstrução de plantel, a necessidade de gerir eficazmente um balneário recheado de caras novas, e de acelerar os processos de entrosamento da equipa reveste-se de uma importância fundamental. Mas como fazê-lo eficientemente? Marc Dos Santos responde. «A tua mensagem tem de ser muito coerente. Aquilo que tu dizes todos os dias, tudo aquilo que apresentas, é importante não mudar muito a nível do modelo de jogo. Podes ajustar algumas situações, mas a tua mensagem tem de ser coerente, tens de ser uma pessoa justa, e comunicar muito com os jogadores, é a única forma de orientar as caras novas em direcção a um só objectivo».
Com três derrotas e um empate nas quatro primeiras jornadas da MLS, o Vancouver Whitecaps encontra-se nas últimas posições da tabela classificativa, mas Marc Dos Santos recusa adoptar uma postura negativista. «Os primeiros resultados são negativos, mas na liga nove ou dez equipas têm entre zero e dois pontos. As nossas três derrotas são por um golo de diferença, estamos a perder por detalhes, e por algumas coisas que ainda podemos fazer melhor. O importante é ficar focalizado no processo e naquilo que temos de ser. Olhar para as derrotas como uma forma de aprendizagem e de crescimento. Sabíamos que ia ser difícil, por isso o importante é recarregar as baterias, e avançar, aprendendo sempre a partir daquilo que fizemos de errado».
Apesar do plantel jovem e renovado, Marc Dos Santos assume a qualificação para os Playoffs como um objectivo já para 2019. «Encaro os Playoffs ainda como um objectivo, tal como a conquista do campeonato canadiano. Era importante ter um plantel jovem para poder construir rumo ao futuro, e começar a ter jogadores que seriam uma valia de revenda, se necessário. Nós sabemos também que quando temos um plantel novo, às vezes falta experiência em alguns momentos, mas ao mesmo tempo, achamos que temos qualidade suficiente para ficar nos sete primeiros lugares».