Análise

A Major League Soccer em 2022: protagonistas, surpresas e desilusões

António Ribeiro / November 3, 2022

Ao contrário do que seria habitual nesta fase da prova, os Play-offs da Major League Soccer não trouxeram surpresas significativas. Los Angeles FC e Philadelphia Union, líderes das respectivas Conferências, conquistaram naturalmente o seu lugar na grande final da principal competição de clubes norte-americana. Em vésperas do tão aguardado confronto que irá condecorar um campeão inédito, o ‘Soccer em Português’ decidiu traçar um breve retrato da temporada que está prestes a terminar, colocando especial ênfase nos finalistas, nas surpresas e desilusões colectivas, e nas individualidades em destaque.  

(Caso deseje acompanhar em território português a disputa pelo título da MLS, poderá fazê-lo através dos canais SportTV, este Sábado, pelas 20h). 

OS FINALISTAS 

Tanto Los Angeles FC como Philadelphia Union vão disputar a final da Major League Soccer pela primeira vez na sua história, pelo que assistiremos obrigatoriamente à coroação de um campeão inédito. Os californianos estiveram perto em 2019, ano em que bateram o recorde de pontos da Fase Regular, tendo acabado derrotados nas meias-finais dos Play-offs. O melhor registo do Union até agora também tinha sido como semifinalista, na feliz temporada transacta, que acabaria marcada pela presença da equipa nas meias-finais da Liga dos Campeões CONCACAF. Apesar da estreia de ambos os emblemas no jogo do título, o alinhamento desta final não representa uma grande surpresa, pois os dois conjuntos terminaram a Fase Regular no topo das suas Conferências com precisamente 67 pontos, e foram confirmando o seu favoritismo no decorrer das eliminatórias. O Los Angeles FC acabaria por levantar o troféu da Fase Regular devido ao maior número de vitórias, critério principal de desempate. Em 2022, estes dois clubes apenas se defrontaram uma vez, na Califórnia, e o confronto terminou com um empate a duas bolas.  

O equilíbrio parece demais evidente entre os finalistas, embora seja tentador atribuir um ligeiro favoritismo ao Los Angeles FC, não só pelo estatuto de visitado, mas sobretudo pela quantidade e qualidade do seu plantel, inigualável em território norte-americano. O trio ofensivo habitualmente titular, por exemplo, composto por Carlos Vela, Denis Bouanga e Cristian Arango, é durante as partidas revezado por Gareth Bale, Cristian Tello ou Kwadwo Opoku, deixando muitas vezes os adversários assoberbados com tanto poderio atacante. Enquanto isso, o lendário campeão da Europa Giorgio Chiellini vai chefiando a defesa, e outras figuras menos sonantes vão conquistando meritoriamente protagonismo, como é o caso dos internacionais equatorianos Diego Palacios e José Cifuentes. As reservas que existiam em relação à parca experiência do técnico Steve Cherundolo têm vindo igualmente a dissipar-se, visto que o ex-internacional dos Estados Unidos continua a dar provas de competência consecutivas, e pode muito bem assegurar a conquista da MLS. 

Um dos grandes aliciantes desta final da Major League Soccer reside no confronto entre duas forças antagónicas. Ora se o Los Angeles FC cativa pelas opções que pode colocar no último terço, do outro lado temos uma verdadeira muralha defensiva, que sofreu apenas 26 golos em 34 jogos. O treinador Jim Curtin sempre privilegiou o rigor defensivo, o que não significa que a sua equipa revele propriamente uma mentalidade recuada durante os jogos. Aliás, apesar de todas as estrelas de Los Angeles, foi mesmo o Union quem terminou o ano com o melhor registo ofensivo da prova (72 golos), pontuado por sete goleadas na segunda metade da Fase Regular. Jim Curtin conseguiu uma simbiose perfeita entre as figuras de referência defensivas entrosadas que já tinha no plantel, e os reforços cirúrgicos de cariz ofensivo que catapultaram a equipa para uma nova dimensão competitiva. Falamos especificamente do Guarda-redes do Ano, Andrew Blake e dos seus defesas Kai Wagner, Jack Elliot e Jakob Glesnes, que mantiveram os seus níveis exibicionais em patamares altíssimos, preparando assim o palco para Daniel Gazdag (chegou em 2021), Julian Carranza e Mikael Uhre. Agora sim, estamos perante uma equipa completa e ameaçadora, capaz de discutir o favoritismo teórico dos californianos.  

Los Angeles FC (XI Provável)
Philadelphia Union (XI Provável)

SURPRESAS E DESILUSÕES 

Entre as narrativas mais inesperadas do ano na MLS encontra-se a caminhada fantástica de Austin FC, ainda na sua segunda época oficial. Terminou na quarta posição da classificação global, garantindo um lugar inédito na próxima edição da Liga dos Campeões, e ainda derrubou Real Salt Lake e FC Dallas nos Play-offs, antes de cair com estrondo nas meias-finais, diante do Los Angeles FC. Beneficiou de uma época superlativa do avançado argentino Sebastián Driussi, melhor marcador da época (se considerarmos os Play-offs). 

O poderio atacante também se revelou a solução ideal para FC Cincinnati, equipa habitualmente talhada ao insucesso. O trio demolidor composto por Luciano Acosta, Brandon Vazquez e Brenner apontaram só entre eles 48 dos 66 golos da temporada. Eliminaram o New York Red Bulls, mas não foram capazes de contornar a solidez defensiva do Philadelphia Union nos quartos-de-final.  

De quem igualmente não se esperava grandes feitos era de CF Montreal, só que o emblema canadiano foi somando pontos discretamente até terminar no terceiro lugar da classificação global. Guiados sobretudo por um forte espírito colectivo e pelas contribuições vistosas dos virtuosos Romell Quioto e Djordje Mihailovic, ainda foram a tempo de afastar o Orlando City SC, mas incapazes de lidar com o New York City FC nos quartos-de-final. 

Pela negativa temos obrigatoriamente de apontar o Seattle Sounders FC. Ao 14º ano de existência, um dos clubes mais titulados da competição falhou o acesso aos Play-offs pela primeira vez, e logo numa temporada mágica, em que se sagrou vencedor da Liga dos Campeões. O verdadeiro significado do termo ‘agridoce’ perante uma fase de restruturação de plantel e de enorme ansiedade para os seus adeptos, que vão ver em breve a sua equipa no Mundial de Clubes, sem saber bem com que jogadores.  

Em New England, a experiência do técnico Bruce Arena não foi suficiente para colmatar o que o mercado de transferências levou ao longo do ano. As saídas de Matt Turner, Tajon Buchanan, Adam Buksa e Sebastian Lletget deixaram o New England Revolution numa situação bastante complicada, o que acabou por conduzir a um ano muito negativo, extremamente diferente do anterior. 

Por último, a maior desilusão do ano: Toronto FC. Orientada por Bob Bradley, um dos treinadores mais credenciados dos Estados Unidos, esta equipa começou a época com figuras importantes como Carlos Salcedo, Michael Bradley e Alejandro Pozuelo nas suas fileiras, responsáveis por manter as aspirações vivas até ao Verão. Veio a mudança de estação, e com ela chegaram Lorenzo Insigne, Federico Bernardeschi e Domenico Criscito para ajudar na fase decisiva da prova. Tudo correu mal, e o Toronto FC fechou a Fase Regular em penúltimo lugar. Um final absolutamente lamentável.  

OS MELHORES DO ANO 

Ao olharmos para o ‘XI do Ano’ desenhado pelo ‘Soccer em Português’, podemos reparar que o campeão da Fase Regular e favorito a levantar o troféu da MLS não tem nenhum representante. Acontece que a diversidade de soluções que o Los Angeles FC reúne no seu plantel levou a que o seu treinador aplicasse um nível elevado de rotatividade na gestão dos jogadores. Em consequência, apesar da brilhante temporada colectiva que pode muito bem redundar na conquista do título mais importante da história dos californianos, as individualidades do Los Angeles FC acabam por perder na comparação com outras figuras do campeonato que assumiram um peso sobejamente mais determinante nas suas equipas.

Os 26 golos sofridos em 36 partidas do Philadelphia Union são uma marca notável na MLS, sobretudo se verificarmos que o segundo melhor registo cifrou-se nos 37 golos consentidos. O internacional jamaicano Andre Blake continua a ser um monstro na baliza, voltando a merecer a coroação de Guarda-Redes do Ano, só que desta vez contou com o apoio de três unidades defensivas que protagonizaram épocas de antologia. A dupla de centrais Jakob Glesnes e Jack Elliott, assim como o lateral esquerdo Kai Wagner, são o grande trunfo para travar a força ofensiva do Los Angeles FC na grande final. Wagner já foi apontado ao Benfica este Verão, e existem notícias que dão conta de uma transfêrencia do alemão para o Leeds já em Janeiro. Terminou o ano com 15(!) assistências para golo. Por sua vez, a lateral direita pareceu menos inspirada, um pouco por toda a parte, embora seja justo atribuir o posto a Brandon Bye, um dos únicos elementos em destaque no ano negativo do New England Revolution.

Seguindo para o meio-campo, comecemos por Michael Bradley, o experiente internacional norte-americano que nunca mereceu a tragédia que alastrou em Toronto, sob a orientação do seu pai. À sua frente estão dois médios de características ofensivas cujos números impressionam qualquer um: 23 golos e 10 assistências para Daniel Gazdag (Philadelphia Union), 25 golos e 7 assistências para Sebastián Driussi (Austin FC). Tanto um como outro empurraram as suas equipas com remates certeiros até uma fase da prova que ninguém esperaria, deixando para trás quase todos os avançados da competição. Excepto Hany Mukhtar, o jogador mais valioso da temporada, autor de 23 golos e 11 assistências. O avançado alemão que já passou pelo Benfica continua a exibir-se a um nível excepcional em Nashville SC, colocando-se sempre ente os melhores da competição. Carregou a sua equipa praticamente sozinho até aos Play-offs, mas na fase decisiva do torneio não deu para fazer muito mais. Terminamos nos corredores atacantes, território onde o escocês do New York Red Bulls, Lewis Morgan e o uruguaio do Orlando City, Facundo Torres dominaram e arrasaram as defesas adversárias. Aliás, existem rumores de que Torres pode estar perto do Arsenal.

XI do Ano da Major League Soccer 2022
(Soccer em Português)

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