Os protagonistas do ano na Major League Soccer

O Columbus Crew SC vai receber o campeão em título, o Los Angeles FC, na tão aguardada final de mais uma edição da Major League Soccer. Nas vésperas desta partida decisiva, o ‘Soccer em Português’ decide publicar um resumo com as principais narrativas e protagonistas da temporada, sem esquecer de antecipar o que poderá acontecer no encontro de Sábado. Caso não tenha acompanhado a MLS em 2023, aproveite para atualizar os seus conhecimentos futebolísticos a tempo da final.

O MILAGRE (MESSI)ÂNICO QUE NUNCA CHEGOU

Quando o melhor jogador do mundo chegou a Miami, o Inter atravessava o pior momento desportivo do seu ainda curto historial. Ocupava o fundo da Conferência Este, com apenas cinco triunfos em 22 partidas, e restavam somente uma dúzia de jogos para galgar posições até aos Playoffs. No entanto, apesar do cenário catastrófico, a contratação de Messi trouxe com ele Gerardo Martino, Sergio Busquets, Jordi Alba, e uma dose inesperada de confiança. De repente, o milagre dos Playoffs parecia possível. Messi estreou-se com estrondo na Leagues Cup, torneio composto por conjuntos da Major League Soccer e da Liga MX. Contra todas as expectativas, o Inter Miami viria a levantar o seu primeiro troféu logo no mês inaugural do astro argentino. A influência de Messi foi imediata, não só nos números individuais (10 golos em 7 partidas), mas sobretudo na forma como o rendimento de muitos dos seus companheiros disparou. Seguiu-se a meia-final da Taça dos EUA, ultrapassada com êxito, pelo que o período de adaptação de Messi não poderia ter sido melhor.

Entretanto, na Major League Soccer, os preços dos bilhetes para presenciarem um potencial milagre de Messi atingiam máximos históricos. Ninguém queria perder esta remontada anunciada. Nos primeiros seis jogos, quatro vitórias, mesmo com bastante gestão física de Messi, que participou menos e só marcou uma vez neste período. Ainda assim, a equipa parecia motivada pela presença de Messi no balneário, e assistiu-se a verdadeiros fenómenos de superação dentro de campo, por parte de figuras menos reconhecidas. A este ritmo pontual, os Playoffs estavam ao alcance, só que o balão acabaria por esvaziar, principalmente após a lesão de Messi, ocorrência que acabaria por configurar um golpe anímico decisivo. Derrota na final da Taça dos EUA e zero vitórias nas seis derradeiras partidas da Fase Regular, cenário que ditou naturalmente o afastamento do Inter Miami dos Playoffs. No decorrer do ‘período Messi’, o clube subiu apenas uma posição na classificação. O milagre messiânico nunca se chegou a verificar. Contudo, numa nota mais positiva, convém relembrar que a conquista da Leagues Cup acima citada garante a presença do Inter Miami na Liga dos Campeões da próxima época.

QUARTETO DE SURPRESAS

As primeiras três temporadas da história do FC Cincinnati foram simplesmente desastrosas, redundando invariavelmente no fundo da tabela classificativa. Entretanto, em 2022, o ex-internacional norte-americano, Pat Noonan, assumiu a orientação da equipa. A sua primeira experiência como treinador principal revelou-se bastante positiva, com a qualificação para os Playoffs, feito inédito na altura. Apesar deste salto qualitativo, na campanha de 2023 chegou ainda mais além, superando todas as expectativas. O FC Cincinnati sagrou-se campeão da Fase Regular da Major League Soccer, com seis pontos de vantagem sobre o vice (e doze sobre o terceiro) e apenas cinco derrotas em 34 partidas. Esse domínio haveria de ser demonstrado nos Playoffs, após ter eliminado o New York Red Bulls e o vice-campeão em título, o Philadelphia Union. Caiu no prolongamento das meias-finais, diante do Columbus Crew, mas esta ocorrência não apaga o trajeto surpreendente de FC Cincinnati, sustentado pelo brilho individual de dois argentinos: Luciano Acosta e Álvaro Barreal. No 3x5x2 utilizado habitualmente por Noonan, Luciano Acosta foi o principal rosto ofensivo da equipa, protagonizando uma época absolutamente superlativa, pontuada por 17 golos e 11 assistências. No corredor esquerdo, o jovem Álvaro Barreal assumiu-se como lateral do ano para o ‘Soccer em Português’, ao ajudar com 5 golos e 6 assistências.

Outra equipa surpreendente que caiu aos pés dos finalistas, Columbus Crew, foi o Orlando City SC, desta feita nos quartos-de-final. O conjunto comandado pelo colombiano Óscar Pareja assinou uma Fase Regular excelente, terminando no segundo posto, a melhor classificação da sua história. Enquanto os ecos mediáticos da competição focavam-se sobretudo no vizinho e rival, Inter Miami, a turma de Orlando aproveitava para jogar futebol atrativo e amealhar pontos. Apesar de a principal valência desta equipa residir na força coletiva, não há como ignorar o papel imprescindível do internacional uruguaio, Facundo Torres. Este extremo promissor, que já merece outros voos competitivos, terminou o ano com 14 golos e 3 assistências.

Entre as campanhas mais espantosas de 2023 na Major League Soccer, encontramos também os estreantes, St. Louis City SC. Uma equipa de quem pouco ou nada se esperava, no seu primeiro ano de competição oficial, orientada por Bradley Carnell, sul-africano sem experiência como treinador principal, e sem nenhum nome verdadeiramente impactante no seu plantel. O clube de St. Louis correu por fora, mas correu muito, tanto que conquistou a liderança da Conferência Oeste e foi a quarta equipa de toda a Fase Regular com mais pontos somados. A expectativa para vê-los nos Playoffs era grande, mas a pressão dos jogos a eliminar foi mais forte, e a sua jornada acabaria precocemente, após duas derrotas impostas pelo Sporting KC. O destaque individual dos estreantes vai para o centrocampista alemão Eduard Löwen, contratado ao Hertha BSC, cujo portento físico, aliado a uma técnica de remate acima da média, ajudou de forma decisiva a escrever este capítulo bem-sucedido. Adicionalmente, o guarda-redes internacional pela Suíça, Roman Bürki, bem como o experiente central norte-americano, Tim Parker, foram aquisições que se revelaram determinantes na construção de uma equipa sólida, capaz de aguentar o choque da sua primeira época oficial.

Após ter comandado os destinos do DC United ao longo de uma década (2010-20), o treinador Ben Olsen aceitou o desafio de pegar no Houston Dynamo, um clube em crise de resultados desde 2018. Logo no seu ano inaugural, contra todas as expectativas, Olsen transformou os texanos em vencedores. Apuraram-se sem grandes sobressaltos para os Playoffs, onde eliminaram Real Salt Lake e Sporting KC, saindo apenas derrotados na meia-final, diante do campeão em título, o LAFC. Além disso, conquistaram a Taça dos EUA, derrotando o Inter Miami por 2-1. Se formos avaliar a qualidade do plantel que Olsen teve à sua disposição, podemos afirmar categoricamente que se tratou do melhor trabalho de autor alguma vez realizado pelo treinador norte-americano. O Guarda-redes do Ano para o ´Soccer em Português’, Steve Clark, garantiu pontos nos momentos mais complicados, mas foi sobretudo no meio-campo em que Olsen apostou e retirou maiores dividendos. A qualidade e articulação demonstradas pelo trio composto por Artur, Héctor Herrera e Amine Bassi (dois deles foram apostas de Olsen), conseguiram quase sempre desviar as atenções da evidente carência qualitativa que estava presente em muitos outros sectores do plantel.

FINALISTAS

Columbus Crew SC

Fase Regular: 3º lugar (57 pontos)

Playoffs: Atlanta United (2-0, 2-4, 4-2), Orlando City SC (2-0 ap.) e FC Cincinnati (3-2 ap.)

Melhor resultado: Campeão da MLS (2008 e 2020)

Fora do quadro de favoritos de todas as antevisões do torneio, o Columbus Crew SC conseguiu contrariar as profecias pouco esperançosas e demonstrar em campo uma qualidade de jogo indubitável. Sob a orientação de Wilfried Nancy, contratado ao Montreal Impact depois de um ano surpreendentemente positivo no emblema canadiano, o Columbus Crew opera habitualmente num esquema de três defesas rigoroso e aventureiro. A equipa cresceu ao longo da época, até alcançar a terceira posição da classificação global, sem nunca desarmar, mesmo com a perda de peças importantes no Verão. Taticamente arrojado, o técnico francês coloca a sua equipa quase sempre com os olhos postos na baliza adversária, tendo inclusive terminado o ano com o melhor ataque da Fase Regular (67 golos em 34 jogos). Cucho Hernández, principal referência ofensiva da equipa e melhor ponta-de-lança do ano para o ‘Soccer em Português’, tem sido o grande beneficiário deste estilo ofensivo e apelativo. 20 golos marcados e 13 assistências já valeram ao avançado ex-Watford o regresso à seleção colombiana. Para os mais interessados em descobrir novas promessas, o jogador a observar é o médio, Aidan Morris. Esta incansável figura de 22 anos tem revelado uma mentalidade competitiva acima da média e resolve invariavelmente muitos dos desafios defensivos que os adversários vão impondo, merecendo assim as convocatórias que recebeu da seleção norte-americana. Curiosamente, Aidan Morris é o único elemento que resta do plantel dos Crew SC que se sagrou campeão em 2020.

Los Angeles FC

Fase Regular: 8º lugar (52 pontos)

Playoffs: Vancouver Whitecaps (5-2, 1-0), Seattle Sounders (1-0) e Houston Dynamo (2-0)

Melhor resultado: Campeão (2022)

Os campeões em título conseguiram fabricar uma harmonia notável entre futebolistas sonantes e um plantel equilibrado, que só encontra paralelo com o período dominante do LA Galaxy entre 2009 e 2014. Ter figuras reconhecidas como Giorgio Chiellini ou Carlos Vela no balneário, por si só, pouco vale, se não existir uma estratégia racional na composição do restante plantel. Por isso é que o Los Angeles FC saltou rapidamente para a elite da Major League Soccer, e já luta pelo bicampeonato, apesar da sua tenra idade. Em 2023, emergiu como figura mais contributiva da equipa, Denis Bouanga, contratado ao Saint-Étienne na última época. O extremo internacional pelo Gabão tornou-se Bota de Ouro da Major League Soccer, ao apontar um total de 24 golos no ano. Contudo, o número de remates certeiros de Bouanga só é possível graças à existência de um conjunto muito bem rotinado, que sabe jogar bom futebol, e que tem bastantes soluções de qualidade nas suas fileiras. Prevê-se que oito jogadores do LAFC que começaram a final de 2022, repitam a titularidade no próximo Sábado. Na lateral esquerda, por exemplo, iremos ver o internacional equatoriano, Diego Palacios, jogador com valor suficiente para justificar outros palcos competitivos. Por outro lado, vamos igualmente assistir ao regresso de Maxime Crépeau ao jogo mais importante da Major League Soccer. Na final do ano passado, que teve contornos épicos, o guarda-redes canadiano fraturou a perna durante o prolongamento, num lance violento em que acabaria expulso por impedir um lance de golo iminente. Mais do que ninguém, Crépeau passou boa parte do ano em recuperação, a sonhar com a possibilidade de disputar uma nova final.