Fotografia: Paul Rutherford-USA TODAY Sports
Apesar de não ter futebolistas internacionalmente reconhecidos nas suas fileiras, o New England Revolution dominou a Fase Regular da presente temporada da Major League Soccer, batendo inclusive o recorde de pontos da competição. O registo de 73 pontos obtidos em 34 jornadas disputadas suplantou a equipa de Los Angeles FC, que havia chegado aos 72 em 2019, na altura elevada por um Carlos Vela estratosférico. Na onda dos Playoffs, o Soccer em Português dá a conhecer a composição deste plantel vitorioso, excelentemente orientado por Bruce Arena.
O TREINADOR
Conquistar o título da Fase Regular da MLS com uma diferença de 12 pontos para o segundo classificado é demonstrativo da consistência qualitativa do conjunto de New England, e um atestado de competência ao seu treinador Bruce Arena. O veterano norte-americano sagrou-se cinco vezes campeão universitário, comandou a selecção dos Estados Unidos até aos Quartos-de-final no Campeonato do Mundo de 2002, e foi também campeão cinco vezes da Major League Soccer, entre outras valorosas conquistas. No entanto, caiu recentemente no seu currículo profissional uma mancha difícil de apagar. Em Novembro de 2016, após uma série de resultados negativos de Jürgen Klinsmann à frente da selecção dos Estados Unidos, Bruce Arena foi chamado de urgência para inverter a situação e garantir a qualificação para o Campeonato do Mundo de 2018. Dos oito jogos de apuramento que faltavam, Arena só venceu três, e o sonho da Rússia ficou pelo caminho. À beira de completar 70 anos, o seu futuro como treinador começou a ser amplamente questionado, mas ainda assim, o New England Revolution estendeu-lhe a mão em Maio de 2019. Arena assumiu a liderança de uma equipa que nunca venceu a MLS, apesar de já ter perdido cinco finais (a última delas em 2014), e devolveu-lhe a esperança. Sem grandes orçamentos e sem grandes estrelas, Arena e os ‘Revs’ chegaram juntos às meias-finais no último ano, e preparam-se agora para encarar os Playoffs na condição de favoritos ao título. Independentemente do desfecho desta história, Bruce Arena já conseguiu a árdua tarefa de se reerguer e de comprovar novamente o seu valor.
GUARDA-REDES
Na baliza encontramos Matt Turner, um dos elementos mais preponderantes do plantel, que curiosamente viu-se forçado a percorrer um trilho sinuoso até chegar ao topo. Tornou-se viral ainda nos tempos universitários graças a um «frango» seu que circulou pela internet, mas Turner conseguiu provar que isso foi apenas um momento infeliz da sua carreira futebolística, ao destacar-se logo depois nas divisões inferiores norte-americanas. Pese embora a desilusão de não ter sido escolhido no SuperDraft de 2016, recebeu de imediato um convite do New England Revolution para treinar durante algumas semanas, tendo impressionado o suficiente para assinar contrato. Emprestado nas duas primeiras épocas, emergiu como titular absoluto em 2018. Desde então que tem evoluído a olhos vistos, e este ano passou a fazer parte do lote de guarda-redes da selecção dos Estados Unidos, ao serviço da qual venceu a Gold Cup e a distinção de melhor guarda-redes do torneio. O suplente de Turner é o veterano Brad Knighton, norte-americano prestes a finalizar uma carreira onde pontuou em vários emblemas da MLS, porém quase sempre como uma segunda opção, pelo que não oferece uma concorrência válida ao actual nº1 da equipa.
DEFESA
Comecemos pelas laterais defensivas, habitat natural de Brandon Bye e DeJuan Jones, jogadores que podem actuar tanto na esquerda como na direita. Laterais de propensão ofensiva expectável, na medida em que ambos fizeram a sua formação enquanto extremos. Aprenderam a nova tarefa rápido e bem. Oferecem velocidade e verticalidade ao conjunto de Bruce Arena, e embora possuam características semelhantes, Bye parece uma unidade mais completa do que o seu companheiro. No banco temos um jogador que dispensa apresentações nos palcos norte-americanos. AJ DeLaGarza, tricampeão da MLS pelos Los Angeles Galaxy, não tem o mesmo fulgor aos 34 anos, e sempre foi um defesa mais de contenção, mas a sua experiência ainda faz dele uma alternativa sólida, ideal para aguentar um resultado, por exemplo. O colombiano Christian Mafla, contratado esta época ao Atlético Nacional, procura ainda o seu espaço no plantel, estando longe de justificar a sua aquisição.
No eixo, Andrew Farrell é um dos únicos sobreviventes da última final da MLS perdida pelo New England Revolution em 2014. Depois da saída de José Gonçalves pouco depois, Farrell assumiu-se naturalmente como a principal figura defensiva do clube, estatuto que ainda hoje conserva, pelo que lidera a lista de jogadores mais utilizados do plantel na presente temporada. Defesa rápido, atlético e versátil, foi com estrondo que entrou na MLS, ao ser o primeiro seleccionado no SuperDraft de 2013. Embora não tenha cumprido muitas das expectativas veiculadas aquando da sua estreia no futebol profissional, Farrell continua a trilhar um percurso consistente e respeitável na maior prova de clubes norte-americana. Serve de exemplo ao seu parceiro habitual, o jovem Henry Kessler, dotado de uma margem de progressão significativa. Kessler tem todas as condições para se tornar melhor do que o seu colega, e prova disso foi a sua primeira internacionalização, logo na final da Gold Cup diante do México. Com 23 anos e na segunda época profissional, Kessler é o jogador jovem mais interessante de acompanhar neste plantel recordista do New England Revolution. Sem grandes hipóteses de disputar minutos com os dois acima referidos, mas sempre em bom plano quando recebe a oportunidade está Jonathan Bell, um suplente aparentemente fiável, que conquistou a pulso mais minutos do que o reserva titulado DeLaGarza.
MEIO-CAMPO
O técnico Bruce Arena alterna entre o 4x2x3x1 e o 4x1x3x2, sendo que os centrocampistas habituais em qualquer das formações são Matt Polster e Tommy McNamara. Polster é uma unidade mais agressiva, posicionada à frente dos defesas, que também sabe actuar a lateral direito se necessário. Sobressaiu ao serviço do Chicago Fire entre 2015 e 2018, pelo que acabaria por merecer a sua primeira e até agora única internacionalização pelos Estados Unidos, bem como uma proposta do Glasgow Rangers. Permaneceu somente ano e meio na Escócia, com poucas oportunidades, e foi em boa hora resgatado por Bruce Arena. Por outro lado, McNamara é um médio mais móvel, de transporte, capaz de ocupar condignamente variadíssimas posições no sector intermediário. Foi sempre uma peça importante nos clubes da MLS por onde passou, e em New England volta a confirmar esta ideia. Na linha da frente para contestar a titularidade desta dupla encontram-se duas recentes contratações, o brasileiro Maciel e o camaronês Wilfrid Kaptoum. O jovem ex-Botafogo chegou a atravessar um momento de forma bastante interessante em 2021, só que uma inesperada lesão desviou Maciel temporariamente da hipótese de um lugar no onze inicial. Ao seu lado no banco de suplentes, alguém que chegou a ser apontado como um dos grandes talentos da formação do Barcelona. Apesar dos entusiasmantes presságios a seu respeito, não chegou à mão-cheia de jogos pelo Barça, foi transferido para o Bétis, clube que o emprestou ao Almería, e que o deixaria escapar para o New England Revolution a custo zero. O lote de médios inclui ainda o experiente médio Scott Caldwell, e o colombiano formado no Sporting CP, Luis Caicedo, ambos fustigados por problemas físicos.
Na posição 10 apenas existe espaço para a unidade mais valiosa da equipa em 2021, Carles Gil. O virtuoso espanhol é o segundo melhor assistente do campeonato com 13 passes para golo, e um dos fortes candidatos à conquista da distinção de Jogador Mais Valioso da MLS. Elemento imprevisível, consegue desequilibrar as estruturas defensivas adversárias tanto com um drible inesperado, ou com um dos seus passes de assinatura açucarados. Apesar de tecnicamente evoluído, nunca foi capaz de explanar verdadeiramente o seu futebol nas suas passagens pelo Valencia, Aston Villa ou Deportivo. Teve de atravessar o Oceano Atlântico para encontrar a felicidade nos relvados, e os adeptos do New England Revolution agradecem.
Sempre que Bruce Arena decide colocar em campo velocidade e criatividade nos corredores laterais, Tajon Buchanan e Arnór Traustason vão a jogo. Aos 22 anos, Buchanan completa a sua terceira temporada como futebolista profissional, confirmando todo o seu potencial. A maneira como rapidamente se livra dos seus oponentes começou bem cedo a despertar a atenção de vários emblemas europeus, e foi o Club Brugge quem garantiu a transferência do jovem canadiano, contando com os seus préstimos já a partir de Janeiro. Apesar da sua tenra idade, Buchanan soma 16 internacionalizações e 3 golos pela selecção principal, assumindo-se como um membro importante desta nova geração canadiana que se encontra prestes a regressar a um Campeonato do Mundo quase 40 anos depois. Recebeu o prémio de Melhor Jogador Jovem da Gold Cup em 2021, e tem tudo para se despedir da MLS estrondosamente nos Playoffs. Na ala oposta do Revolution reside habitualmente outro jogador com um percurso respeitável pela selecção, desta feita ao serviço da Islândia. Arnór Traustason foi uma feliz contratação de Bruce Arena, que chegou do Malmö no início do ano. Um dos pontos altos da sua carreira foi, sem dúvida, o golo à Áustria apontado na compensação do último jogo da Fase de Grupos do Euro 2016, que carimbou a passagem histórica da Islândia para os oitavos-de-final. Desde que aterrou nos Estados Unidos, encaixou que nem uma luva na forma vertical e explosiva que o Revolution parte para cima dos conjuntos adversários. Quando as pernas começam a acusar o cansaço, o ganês Emmanuel Boateng salta do banco para manter a velocidade em níveis elevados. Campeão em título pelo Columbus Crew, Boateng já tentou a sua sorte na Suécia, mas é na MLS que tem trilhado a maior parte do seu caminho, tendo trabalhado com Bruce Arena nos Los Angeles Galaxy.
AVANÇADOS
Passemos por último à apresentação dos avançados que integram a equipa com o melhor ataque da competição (65 golos em 34 jogos). O experiente argentino Gustavo Bou é o elemento indiscutível desta formação, independentemente do número de avançados no terreno. Campeão argentino pelo River Plate, e mais tarde ao serviço do Racing Club, Bou também brilhou no campeonato mexicano, até rumar a New England em 2019, naquela que foi a transferência mais avultada da história do clube norte-americano. Capaz de rematar forte e colocado de qualquer lugar, o argentino é um futebolista inteligente no posicionamento, mordaz a antecipar as movimentações dos defesas contrários. 15 golos e 8 assistências apenas na presente temporada demonstram que se tratou de um investimento certeiro. Sem tantos minutos, mas com maior aproveitamento está Adam Buksa. O ponta-de-lança polaco é muitas vezes preterido quando Bruce Arena opta por colocar somente um homem na frente, só que sai quase sempre do banco em direcção ao golo. É o melhor marcador da equipa com 16 golos, e o jogador com mais lances aéreos ganhos por jogo (3,6). Prático e com espírito combativo e colectivo, Buksa já vinha bem referenciado da liga polaca, mas foi o seu excelente momento actual com a camisola do New England Revolution que o fez merecer as primeiras chamadas à selecção, onde cumpriu com distinção a sua tarefa. Segue-se na lista o internacional norte-americano Teal Bunbury, no clube desde 2014, mas sem grande espaço graças aos números esclarecedores de Bou e Buksa. Por último, Edward Kizza, jovem originário do Uganda que demonstrou instinto goleador no campeonato universitário, mas que tem tido mais oportunidades nas reservas do clube.