Fotografia: Jennifer Buchanan-USA TODAY Sports
A pausa no calendário motivada pela realização da fase final da Liga das Nações é o pretexto ideal para traçar um breve retrato do arranque da Major League Soccer. Sete rondas embelezadas pela presença de público nos estádios mostraram-nos quem entrou com o pé direito e quem deu os primeiros passos em falso. Para quem não conseguiu acompanhar a acção do primeiro quarto da Fase Regular da principal prova norte-americana de clubes, o Soccer em Português tratou de resumir as narrativas-chave deste período competitivo.
O Seattle Sounders continua a solidificar uma espécie de estatuto de favorito crónico, e apesar de ter sido naturalmente apontado como um dos principais candidatos à conquista do título, pouco ou nada faria prever um arranque tão dominante. Afinal de contas, uma das suas maiores figuras, Jordan Morris, sofreu uma lesão grave ainda durante o empréstimo ao Swansea City, que o manterá fora dos relvados em 2021. Logo depois, as primeiras jornadas trouxeram novos infortúnios. O jogador mais talentoso do plantel, Nicolás Lodeiro, juntamente com o excelente guarda-redes Stefan Frei, também se lesionaram com gravidade, e só devem regressar no final do Verão. Por outro lado, o técnico Brian Schmetzer procedeu a uma reformatação da defesa durante uma pré-época limitada, passando a colocar em campo uma linha de três centrais. O calendário não ajudou, com a equipa a ter de defrontar nos primeiros oito encontros todos os adversários mais poderosos da sua Conferência.
No entanto, é o Seattle Sounders quem lidera a classificação com um ponto de avanço antes da pausa para a Liga das Nações, ainda imbatível. Cinco vitórias e três empates constituem o melhor arranque da história de um clube habituado a superar contrariedades. Se é verdade que Morris e Lodeiro são dois rostos inconfundíveis da equipa, outros elementos do plantel souberam dar o seu contributo para amenizar a sua ausência, sendo o caso mais evidente o de João Paulo. O médio brasileiro contratado ao Botafogo no começo da época passada emerge cada vez mais como peça indispensável para o equilíbrio dos vice-campeões. Já relativamente às alterações implementadas no sector mais recuado, as coisas não poderiam ter corrido melhor. O Sounders apresenta hoje o melhor registo defensivo do campeonato, com apenas três golos sofridos em oito partidas, e todos eles de bola parada. O compromisso defensivo colectivo é assinalável numa equipa onde se destacam particularmente neste parâmetro o central colombiano Yeimar Gómez Andrade e o trinco norte-americano Cristian Roldan. Quando a magia de Lodeiro regressar na fase decisiva na Major League Soccer, aliando-se a uma solidez defensiva notável dos seus companheiros, a conquista de mais um campeonato parece inevitável para o Sounders.
Com somente um pontinho a menos aparece o New England Revolution na tabela classificativa. Desde que o experiente e pentacampeão Bruce Arena assumiu o comando técnico da equipa em 2019 que temos vindo a assistir ao seu expectável salto qualitativo, recompensado com uma presença nas meias-finais dos Playoffs na última temporada. Contudo, nada disto seria possível sem o contributo inestimável de Carles Gil, que chegou ao clube praticamente na mesma altura. O médio ofensivo espanhol formado no Valencia viveu bons momentos ao serviço do Elche, Aston Villa e Deportivo, mas em New England adquiriu uma preponderância inédita. Talvez por isso já tenha assinado um novo contrato até 2024. Três assistências e um golo em oito encontros podem parecer números pouco impressionantes, mas a sua influência na movimentação ofensiva da equipa é inquestionável, pautada por um toque de bola diferenciado. No último jogo, por exemplo, Carles Gil conseguiu criar sete oportunidades claras de golo, apenas de bola parada. Tivesse este plantel um finalizador mais esclarecido, e o número de assistências de Gil certamente disparava. Depois de David Villa em 2016, e Alejandro Pozuelo em 2020, Carles Gil promete ser o próximo futebolista espanhol a conquistar o troféu de Jogador Mais Valioso da Major League Soccer.
Transitando suavemente dos melhores para os piores, no fundo da tabela encontramos o Chicago Fire, algo que tem vindo a ser habitual nos últimos anos. O internacional suíço Raphaël Wicky foi destacado para inverter esta tendência negativa, mas o início do seu segundo ano como treinador principal não augura grandes feitos. Cinco derrotas, um empate e uma vitória é um registo incendiário, que exige uma reflexão neste interregno competitivo. Wicky quer ver os seus homens a trocarem a bola um pouco por todo o rectângulo de jogo, só que são poucos os que conseguem fazê-lo sem comprometer a equipa com sucessivas perdas de bola em zonas proibidas. Junta-se a isto uma defesa abaixo da média e um ponta-de-lança em crise de confiança e temos a receita para o desastre. Falta-nos perceber de que forma foi preparada a construção deste plantel que não mostra qualidade suficiente (salvo raras excepções) para devolver o Chicago Fire aos Playoffs, algo que já não sucede desde 2017.